Adital
Por Sued Lima*
As artimanhas presentes nos processos de agressões desfechadas por potências ocidentais contra nações soberanas ao longo dos últimos cem anos são de tal ordem repetitivas que surpreende ser o invariável e monótono enredo digno de alguma credibilidade junto ao distinto público.
As montagens de burlas já penalizaram dezenas de países nas mais variadas regiões do planeta. O roteiro pouco original apresenta os atores de sempre se dizendo preocupados com os perigos que corre a democracia em determinado país e logo se movem para derrubar o dirigente, quer tenha sido eleito ou não. A complementação da intervenção ocorre, se necessário, pelo emprego de força militar.
Foi esse o caminho percorrido no Brasil, em 1964, conforme gravações divulgadas de conversas havidas no gabinete do presidente John Kennedy. A Embaixada dos EEUU e organismos por eles criados, como o IBAD e o IPES, atuaram fortemente para minar o governo de Jango. Por ocasião do golpe militar, uma poderosa força naval norte-americana estacionava no litoral brasileiro pronta para intervir e assegurar a vitória do golpe.
O caos em que se transformou a Líbia é outra evidência mais recente do modus operandi da França, Inglaterra e, uma vez mais, EEUU, para destruir um governo pouco receptivo a seus interesses.
No momento, modelo semelhante de encenação desenvolve-se na Ucrânia. O presidente Viktor Yanukovych, constitucionalmente eleito em fevereiro de 2010, com 48% dos votos, foi deposto em fevereiro de 2014. Em meio à agitação que tomava conta da capital Kiev, ocorreu um episódio revelador: Victoria Nuland, a mais alta funcionária do governo norte-americano para a Europa, foi flagrada em conversa telefônica com o embaixador de seu país na Ucrânia sobre o apoio a ser dado à turbulência política. Ante as ponderações do diplomata, Nuland determinou: "Fuck the European Union” (Que se f... a União Europeia).
O novo regime se impôs pela violência de seus apoiadores, em grande parte composta por nazistas. Entre as medidas programadas, destacou-se a proibição do idioma russo em território ucraniano, o que atingiria cerca de 8,5 milhões de pessoas que habitam o leste do país, 17,3% de sua população. Em maio do ano passado, na cidade de Odessa, um grupo terrorista leal a Kiev incendiou o prédio sede dos sindicatos da cidade. Morreram 36 pessoas carbonizadas ou executadas com armas de fogo. Esses batalhões nazistas vêm se tornando um problema para o próprio governo. Financiados por oligarcas, essas unidades paramilitares, além da violência desenfreada contra os rebeldes, afrontam o próprio exército ucraniano.
Em julho, uma aeronave da Malásia, cumprindo linha comercial regular, foi abatida em território ucraniano. Antes mesmo do início da investigação, Kiev e Washington afirmaram tratar-se de ataque criminoso desfechado por rebeldes separatistas. Com o surgimento de evidências apontando para o fato de o avião ter sido derrubado por míssil lançado por um caça ucraniano, o assunto sumiu do noticiário.
A história da Rússia é rica em coragem, heroísmo e resistência a invasões de diversas procedências, de Napoleão a Hitler, sem esquecer o ataque desencadeado pela França, Inglaterra e Japão, em 1920, cujo objetivo era liquidar a Revolução Socialista de 1917. Cada uma dessas guerras representou elevado número de perdas humanas e materiais para o país. Número pouco comentado no ocidente, somente na Segunda Guerra cerca de 27 milhões de soviéticos perderam a vida. Por tudo isso, o povo russo sabe que sua sobrevivência depende de sua capacidade de defesa, o que gera o enorme apoio popular às medidas adotadas pelo presidente Putin no sentido de preservar suas fronteiras da presença ameaçadora deforças militares da OTAN.
Os EEUU agem no sentido contrário e avançam no controle de Estados limítrofes com a Rússia. Suas ações de apoio político e militar ao governo ucraniano, como o recente anúncio de fornecimento de armas de ataque a Kiev, representam evidente pressão no sentido de agravar a confrontação que se avizinha. França e Alemanha sabem que seus territórios inexoravelmente se tornarão teatro de guerra, o que leva seus dirigentes a buscarem prudência no trato da questão.
Geograficamente distantes do potencial conflito, os EEUU aparentam desconsiderar os riscos de um confronto nuclear para o planeta. Enquanto o presidente Obama engrossa a voz com os russos, senadores norte-americanos criticam alemães e franceses por se oporem ao envio de armas a Kiev.
Ao que parece, a sensatez é artigo raro no centro do império.
*Coronel Aviador Ref. e pesquisador do Observatório das Nacionalidades
Fonte: Jornal O Povo
As artimanhas presentes nos processos de agressões desfechadas por potências ocidentais contra nações soberanas ao longo dos últimos cem anos são de tal ordem repetitivas que surpreende ser o invariável e monótono enredo digno de alguma credibilidade junto ao distinto público.
As montagens de burlas já penalizaram dezenas de países nas mais variadas regiões do planeta. O roteiro pouco original apresenta os atores de sempre se dizendo preocupados com os perigos que corre a democracia em determinado país e logo se movem para derrubar o dirigente, quer tenha sido eleito ou não. A complementação da intervenção ocorre, se necessário, pelo emprego de força militar.
Foi esse o caminho percorrido no Brasil, em 1964, conforme gravações divulgadas de conversas havidas no gabinete do presidente John Kennedy. A Embaixada dos EEUU e organismos por eles criados, como o IBAD e o IPES, atuaram fortemente para minar o governo de Jango. Por ocasião do golpe militar, uma poderosa força naval norte-americana estacionava no litoral brasileiro pronta para intervir e assegurar a vitória do golpe.
O caos em que se transformou a Líbia é outra evidência mais recente do modus operandi da França, Inglaterra e, uma vez mais, EEUU, para destruir um governo pouco receptivo a seus interesses.
No momento, modelo semelhante de encenação desenvolve-se na Ucrânia. O presidente Viktor Yanukovych, constitucionalmente eleito em fevereiro de 2010, com 48% dos votos, foi deposto em fevereiro de 2014. Em meio à agitação que tomava conta da capital Kiev, ocorreu um episódio revelador: Victoria Nuland, a mais alta funcionária do governo norte-americano para a Europa, foi flagrada em conversa telefônica com o embaixador de seu país na Ucrânia sobre o apoio a ser dado à turbulência política. Ante as ponderações do diplomata, Nuland determinou: "Fuck the European Union” (Que se f... a União Europeia).
O novo regime se impôs pela violência de seus apoiadores, em grande parte composta por nazistas. Entre as medidas programadas, destacou-se a proibição do idioma russo em território ucraniano, o que atingiria cerca de 8,5 milhões de pessoas que habitam o leste do país, 17,3% de sua população. Em maio do ano passado, na cidade de Odessa, um grupo terrorista leal a Kiev incendiou o prédio sede dos sindicatos da cidade. Morreram 36 pessoas carbonizadas ou executadas com armas de fogo. Esses batalhões nazistas vêm se tornando um problema para o próprio governo. Financiados por oligarcas, essas unidades paramilitares, além da violência desenfreada contra os rebeldes, afrontam o próprio exército ucraniano.
Em julho, uma aeronave da Malásia, cumprindo linha comercial regular, foi abatida em território ucraniano. Antes mesmo do início da investigação, Kiev e Washington afirmaram tratar-se de ataque criminoso desfechado por rebeldes separatistas. Com o surgimento de evidências apontando para o fato de o avião ter sido derrubado por míssil lançado por um caça ucraniano, o assunto sumiu do noticiário.
A história da Rússia é rica em coragem, heroísmo e resistência a invasões de diversas procedências, de Napoleão a Hitler, sem esquecer o ataque desencadeado pela França, Inglaterra e Japão, em 1920, cujo objetivo era liquidar a Revolução Socialista de 1917. Cada uma dessas guerras representou elevado número de perdas humanas e materiais para o país. Número pouco comentado no ocidente, somente na Segunda Guerra cerca de 27 milhões de soviéticos perderam a vida. Por tudo isso, o povo russo sabe que sua sobrevivência depende de sua capacidade de defesa, o que gera o enorme apoio popular às medidas adotadas pelo presidente Putin no sentido de preservar suas fronteiras da presença ameaçadora deforças militares da OTAN.
Os EEUU agem no sentido contrário e avançam no controle de Estados limítrofes com a Rússia. Suas ações de apoio político e militar ao governo ucraniano, como o recente anúncio de fornecimento de armas de ataque a Kiev, representam evidente pressão no sentido de agravar a confrontação que se avizinha. França e Alemanha sabem que seus territórios inexoravelmente se tornarão teatro de guerra, o que leva seus dirigentes a buscarem prudência no trato da questão.
Geograficamente distantes do potencial conflito, os EEUU aparentam desconsiderar os riscos de um confronto nuclear para o planeta. Enquanto o presidente Obama engrossa a voz com os russos, senadores norte-americanos criticam alemães e franceses por se oporem ao envio de armas a Kiev.
Ao que parece, a sensatez é artigo raro no centro do império.
*Coronel Aviador Ref. e pesquisador do Observatório das Nacionalidades
Fonte: Jornal O Povo