terça-feira, 6 de maio de 2014

Mil Sem Terra marcham rumo à capital paulista 6 de maio de 2014 Por Luiz Felipe Albuquerque Da Página do MST Após saírem do município de Itapevi e marcharem por 20 km na manhã desta terça-feira (6), os cerca de 1000 Sem Terra que rumam à capital paulista chegaram na cidade de Osasco no começo desta tarde. A Marcha Estadual Luiz Beltrame, que homenageia o Sem Terra mais velho do país (no mês de outubro Seu Luiz completa 106 anos de idade), cobra maior agilidade nas politicas referentes à Reforma Agrária. De acordo com Movimento, a Reforma Agrária está completamente estagnada nos últimos três anos. Em 2013, houve apenas 100 decretos de desapropriações de novas áreas, o que possibilitou assentar pouco mais de 7 mil famílias, num universo de mais de 150 mil acampadas em todo o país. Se comparado aos últimos três governos, o da presidenta Dilma Rousseff fica muito aquém: desde 2011, foram assentadas cerca de 70 mil famílias. Além de serem considerados superestimados pelos movimentos sociais, esse resultado representa a média anual do número de famílias que foram assentadas nos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso. “Marchamos para pressionar os governos federal e estadual a retomarem os processos de desapropriações de novas áreas, e dialogar com a sociedade sobre a importância da Reforma Agrária”, disse Kelli Mafort, da direção nacional do MST. Para ela, o modelo do agronegócio não responde aos anseios da população, já que produzem alimentos com enormes quantidades de agrotóxicos, se utilizam dos transgênicos e não respeitam o meio ambiente. Para dialogar com a população sobre os problemas no campo brasileiro, os Sem Terra marcham por dentro das cidades. Nesse primeiro dia, passaram pelos municípios de Itapevi, Jandira, Barueri, Carapicuíba e Osasco. Pela manhã desta quarta-feira, saem novamente em marcha rumo à cidade de São Paulo, onde permanecerão até sexta-feira (9). Grilos silenciosos Em São Paulo, ainda existem cerca de 4 mil famílias acampadas na luta por um pedaço de terra, espalhadas em 50 acampamentos por todo estado. Alguns destes existem há mais de 10 anos. Eliseu Rodrigues Nunes é uma dessas pessoas. Aos 30 anos de idade, com uma mulher e dois filhos, Eliseu está acampado desde 2003. E já nem sabe mais o número de vezes que foi despejado. Estima que foram mais de 30. Atualmente está em seu terceiro acampamento, o Santa Maria da Conquista, no município de Itapetininga. Ele e outras 50 famílias lutam há seis anos para que uma fazenda improdutiva de 702 hectares seja desapropriada e se transforme num assentamento. “Continuo nessa luta porque acredito muito nela. E sei que depois de conquistada a terra, essa luta vai ter apenas começado”, pontua. Junto a ele, outras 10 famílias do Santa Maria da Conquista também estão na luta desde 2003. Outro complicador no estado de São Paulo são as terras públicas ocupadas por empresas privadas. “O governo do estado é conivente com a grilagem de terras, já que sabem que milhares de hectares de terras devolutas estão na mão do agronegócio e do latifúndio, mas nada fazem para mudar essa situação”, observa Kelli. Segundo dados oficiais, estimam-se que aproximadamente 160 mil hectares de terras públicas no estado são griladas pelo agronegócio. Comuna Urbana No meio do percurso, os Sem Terra realizaram um ato em frente à prefeitura de Jandira, onde cobraram do poder municipal investimentos em infraestrutura na Comuna Urbana Dom Hélder Câmara, uma área do MST onde moram 127 famílias. Foram mais de 12 anos de luta para que a área finalmente fosse conquistada. Em 2011, as famílias passaram a viver no local, sob as casas que elas mesmas tinham construído. À prefeitura, cabia a infraestrutura. Desde aquela data, já foram depositados mais de 90% dos recursos para as obras de infraestrutura pela Caixa Econômica Federal. Mas segundo os Sem Terra, nem 30% desse valor foi utilizado. Dentro desse cenário, as famílias ainda não contam com água encanada, saneamento básico, pavimentação do espaço, nem a construção da escola. “Nossa luta é por escola, terra e dignidade. As crianças tem o direito de estudar perto de onde elas vivem. Não vamos aceitar que nossas crianças estudem em péssimas condições”, disse Érica Silveira, da coordenação regional do MST. Apenas 60 das cerca de 200 crianças da Comuna são atendidas na área improvisada, uma futura padaria local. As outras estão na fila de espera. “O prefeito tem a responsabilidade e a obrigação de terminar a Comuna”, afirmou Érica. Após a pressão, o prefeito Geraldo Teotonio da Silva (PV) recebeu o MST e marcou uma audiência com uma comissão do Movimento para quarta-feira (7) às 11h.

Campos confirma guinada à direita e atinge socialistas históricos do PSB

Eduardo Campos (PSB) é mais um integrante da direita e tomou o poder na legenda que um dia foi socialista O Partido Socialista Brasileiro (PSB) definiu, por orientação do presidenciável Eduardo Campos, que de socialista mesmo restará apenas o nome da legenda. O conteúdo, que identificava a agremiação com a esquerda brasileira será extraído, em parte ou na íntegra, durante a próxima convenção partidária. Na prática, o interesse público e a socialização dos meios de produção desaparecem para deixar livre o compromisso “com a ordem econômica que está aí”, como afirmou Campos, nesta segunda-feira. A decisão já causa um mal estar entre os socialistas históricos abrigados na ideologia prestes a ser sacrificada em nome do capitalismo. Entre eles, o advogado e articulista Roberto Amaral, histórico e combativo militante contra o regime ditatorial e fundador do PSB, após sua passagem no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). No campo econômico, Amaral bate firme no establishment: “O Estado é, sempre, servidor da classe dominante, assim identificada como detentora dos meios de produção’. Esta sentença encerra uma verdade, mas não encerra a verdade toda, pois o Estado capitalista, democrático ou não, é permeado de classes e contradições entre classes e mesmo no interior da classe que exerce o poder de Estado, e nesses espaços podem atuar as mais diversas forças, inclusive as que lhe são antagônicas. Ainda bem. Pois, se tomada a sentença marxista (Manifesto comunista e A ideologia alemã) no seu sentido tout court nada mais teríamos por fazer, a revolução seria impossível, a política estaria morta e, aí sim, a História não teria mais caminho a percorrer”, afirmou, em recente artigo publicado na revista semanal de esquerda Carta Capital. Em linha com Amaral, ministro da Ciência e Tecnologia durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros militantes históricos também se afastaram do PSB. A inspiração marxista, que prega a “socialização dos meios de produção” e limites à propriedade privada, agora faz parte do passado. A início da queda teve início no ano passado, desde a comunhão entre Campos e a ex-ministra do Meio Ambiente, também no governo Lula, Marina Silva, que tem entre seus principais patrocinadores os donos do Banco Itaú e propaga um ideário recheado de opiniões homofóbicas e fundamentalistas. – Como um partido que se diz socialista rasga seu programa de defesa histórica dos direitos das mulheres e se posiciona contra mudanças na lei do aborto? este é apenas um de inúmeros outros pontos centrais da agenda socialista que vem sendo esvaziada – afirmou à reportagem do Correio do Brasil um dos fundadores da legenda que, por motivos pessoais, prefere manter o anonimato. A política de alianças do ex-governador pernambucano na campanha ao Palácio do Planalto, cada vez mais à direita, ficou demonstrada na troca de correspondência entre o coordenador de comunicação da pré-campanha, Alon Feuerwerker, ao próprio Campos, flagrada por repórteres do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e publicada na edição desta segunda-feira. Na mensagem, Feuerwerker encaminha a Campos o fragmento de um texto, no qual um colaborador descreve o ataque ao partido que circula na internet. O coordenador questiona Campos, presidente nacional do PSB, se é possível alterar o manifesto do partido na convenção em junho. “Tem como mexer nisso na convenção de junho?”, questiona o e-mail do coordenador ao chefe. Nesta manhã, Campos tornou público o seu ponto de vista. Ele disse que o debate sobre o manifesto do partido foi feito a seu pedido e que a mudança deverá ocorrer até 10 de junho, quando ocorrerá a convenção partidária. – Estamos preparando programa de governo que tem claros compromissos com a ordem econômica que está aí, com a estabilização da economia. E, nesses encontros, nós temos interesse de fazer esse debate para mudar o nosso programa – afirmou Campos, presidente nacional do PSB durante visita a Belo Horizonte. Trechos do manifesto, de 1947, que definem os princípios do Partido Socialista Brasileiro preocupam os setores da legenda mais ligados à direita. Campos quer desfazer qualquer ligação com o documento. – Estamos falando de um manifesto de 1947, um documento histórico do partido, em outras circunstâncias. Ali em 1947 nosso partido já se colocava contra a polarização dos que viviam a chamada Guerra Fria – conclui Campos. Fonte: Correio do Brasil