Entenda a crise da dívida dos EUA e como isso afeta o Brasil
Na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou em pronunciamento na Casa Branca que a falta de um acordo que permita elevar o teto da dívida do país trará problemas sérios à economia.
No Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que espera “sensatez” do governo e de políticos norte-americanos para solucionar o impasse sobre a negociação da dívida dos EUA
Entenda os pontos mais importantes das negociações.
Debate e negociações
Obama em reunião com líderes
do congresso para debater o teto da dívida.
(Foto: Mandel NGAN/AFP)
do congresso para debater o teto da dívida.
(Foto: Mandel NGAN/AFP)
O presidente Barack Obama e os demais representantes do governo têm lutado nos últimos dias para convencer o Congresso a ampliar o limite de envididamento permitido ao governo.
Essa negociação é comum no Congresso americano, onde ocorre de forma periódica desde 1917 (data em que foi estabelecido um limite legal para o endividamento do país). Desta vez, no entanto, a renegociação do teto da dívida enfrenta um impasse.
O que é a dívida dos EUA
(Foto: AFP)
Assim como outros países - inclusive o Brasil - o Tesouro norte-americano emite no mercado financeiro papéis respaldados pelo governo para financiar as atividades do governo federal, como pagamento de funcionários e fundos de previdência.
No caso dos EUA, os títulos são conhecidos como Treasuries, comprados por investidores do mercado financeiro que são remunerados com juros: os títulos americanos são considerados os mais seguros do mundo e, por isso, atraem tantos investidores interessados em comprar seus papéis.
Para quem os EUA devem
Chinês conta notas de dólar perto de
notas de iuan. (Foto: AFP)
notas de iuan. (Foto: AFP)
Brasil, China, Japão, Reino Unido e os países exportadores de petróleo estão entre os maiores credores estrangeiros que detêm 32% dos títulos da dívida pública dos Estados Unidos.
Segundo os números do Departamento do Tesouro, a dívida pendente dos EUA somava, no último dia 30 de junho, US$ 14,3 trilhões, dos quais US$ 4,6 trilhões eram "pastas intergovernamentais" e US$ 9,7 trilhões eram dívidas nas mãos do público.
Os EUA devem somente ao Brasil a quantia de US$ 187 bilhões. O maior credor do país é a China, com US$ 1,1 trilhão, seguida pelo Japão com US$ 882,3 bilhões, o Reino Unido com US$ 272,1 bilhões e os exportadores de petróleo com US$ 211,9 bilhões.
Outros grandes detentores de bônus e títulos da dívida americana são os bancos radicados no Caribe, que acumulam títulos no valor de US$ 169 bilhões, Taiwan com US$ 155 bilhões, Rússia com US$ 151 bilhões, Hong Kong com US$ 135 bilhões e Suíça com US$ 107 bilhões
Por que a dívida está tão alta
Homem se apoia na parede da sede do Lehman
Brothers em NY, em 15 de setembro de 2008.
(Foto: Nicholas ROBERTS/AFP)
Brothers em NY, em 15 de setembro de 2008.
(Foto: Nicholas ROBERTS/AFP)
O alto nível de endividamento dos EUA ainda reflete, entre outros fatores, efeitos da "ressaca" da crise financeira desencadeada em 2008 pela quebra do banco Lehman Brothers. Isso porque, em tempos de recessão, um país precisa de mais dinheiro para estimular a economia.
No caso dos EUA, o país emitiu mais papéis para ter dinheiro para evitar a falência de empresas e bancos em dificuldades, isentar e reduzir alguns impostos, e pagar benefícios sociais como seguro-desemprego, mais necessários em épocas de demissões e cortes de pessoal.
A decisão de socorrer setores da economia que estavam em risco de falência endividou não só os EUA, mas de outros países que hoje enfrentam problemas com a dívida: Grécia, Irlanda e Itália, por exemplo.
Antes disso, os EUA já haviam gastado muito dinheiro ao longo dos anos para financiar guerras e ações militares. Iniciadas há quase dez anos, após os atentados de 11 de setembro de 2001, as operações norte-americanas no Afeganistão custam atualmente mais de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 3,1 bilhões) por semana aos cofres americanos, o que tem despertado cada vez mais críticas, tanto de republicanos quanto de democratas.
Obama X oposição
Barack Obama, em pronunciamento (Foto: Reuters)
Por trás da discussão em torno dos números da dívida, há uma disputa política entre parlamentares do governo e da oposição, como explica o economista Miguel Daoud, da Global Financial Advisor.
A oposição republicana, adversária política de Obama, exige que o aumento do limite seja vinculado a cortes maiores no orçamento americano dos que os desejados pelo governo democrata, com medidas como aumento de impostos e corte de benefícios sociais, que poderiam afetar a vida do cidadão americano comum.
"Como o Obama está prestes a começar uma campanha para reeleição, a oposição está exigindo cortes em setores da economia que vão afetar a popularidade do presidente", avalia Daoud. A popularidade de Obama está baixa nos EUA, embora tenha tido um fôlego temporário com a morte de Osama Bin Laden.
O presidente norte-americano, por outro lado, quer sair do impasse sem frear ainda mais a economia. Obama disse concordar com maiores cortes de gastos e quer que os republicanos aceitem algum aumento de impostos sobre os norte-americanos mais ricos. Eles recusam.
Fama em risco
A agência classificadora de risco Moody's anunciou nesta quarta-feira (13) que considera baixar a nota da dívida dos Estados Unidos, que atualmente se encontra no melhor patamar possível, em "Aaa". O mesmo aviso foi dado pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
Na prática, isso significaria aos EUA , que atualmente são referência de pagamento seguro no mundo, e têm, na avaliação das agências de classificação, risco praticamente nulo de calote.
Reclamação da China
Hong Lei, porta-voz do Ministério de Relações
Exteriores da China. (Foto: AFP)
Exteriores da China. (Foto: AFP)
A China, maior credor dos EUA com US$ 1,1 trilhão em bônus, pediu que os Estados Unidos adotem medidas mais responsáveis a fim de proteger os interesses dos investidores nos títulos do Tesouro americano (Treasuries). "Nós esperamos que o governo norte-americano adote políticas responsáveis para proteger os interesses dos investidores", disse Hong Lei, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China.
O que isso tem a ver com o Brasil
Consumidores pesquisam preços de eletrônicos.
(Foto: Daigo Oliva/G1)
(Foto: Daigo Oliva/G1)
Na avaliação do economista Miguel Daoud, da consultoria Global Financial Advisor, um eventual calote dos EUA teria impactos econômicos no Brasil, que vive momento de dólar baixo e forte consumo de importados.
Encareceria o financiamento para bancos e empresas brasileiras, que precisam captar dinheiro no exterior; valorizaria o dólar e aumentaria o preço dos importados, o que geraria inflação; causaria também, consequentemente, a necessidade de se aumentar ainda mais os juros para controlar os preços.
"Geraria inflação com o importados, resultaria em aumento juros e aumentaria a proporção dívida/PIB", estima Daoud que, embora não descarte essa hipótese, considera improvável que um acordo entre governo dos EUA e Congresso não seja alcançado.
Com informações da Reuters, da BBC, da AFP e de agências internacionais