sexta-feira, 25 de abril de 2014

"O veneno está na mesa 2" mostra alternativas para alimentação saudável

Por Camila Nobrega e Rogério Daflon
Da Campanha Contra os Agrotóxicos

A cada 90 minutos, alguém é envenenado por um agrotóxico no Brasil. O filme "O veneno está na mesa 2" traz à tona uma encruzilhada. Para o diretor do documentário, Silvio Tendler - que tem no currículo trabalhos como "Jango" e "Cidadão do mundo",  sobre Josué de Castro - está mais do que na hora de o pais fazer uma escolha entre dois caminhos: uma alimentação saudável fruto de uma agricultura familiar ou um modelo com base no agronegócio calcado no trinômio monocultura, baixa empregabilidade e agrotóxicos.

"Eu comecei a entender o peso da alimentação na vida das pessoas quando soube que tenho diabetes. A partir daí, me dei conta de como a comida pode levar doenças às pessoas. O  filme "O veneno está na mesa 1"  foi um alerta, mas o de agora traz uma alternativa. Ele te leva a escolher em que mundo você quer viver.  É agora ou nunca mais."

Em sessão lotada por mais de 600 pessoas no Teatro Casa Grande, no Rio, nesta quarta-feira (16/4), o documentário de Tendler foi exibido pela primeira vez. A sessão foi dedicada às 5000 vítimas do despejo ocorrido no terreno da empresa Oi, no dia 11 abril, e que até hoje estão sem moradia. Antes do debate pós-filme, o diretor foi aplaudido de pé.
O longa suscitou uma ótima discussão inspirada em cenas registradas em diferentes cidades brasileiras, onde a agricultura familiar tem sido pressionada em seu território e seus modos de vida pelo agronegócio.
Há situacões tão conflitantes que beiram o absurdo, como aviões de empresas pulverizando suas plantações e, ao mesmo tempo, lançando agrotóxicos em escolas e em culturas de pequenos produtores que não usam nenhum tipo de veneno.

Um dos relatos do documentário é o de uma agricultora que teve um quadro grave de depressão que, ao que tudo indica, foi provocado pelo excesso de exposição a agrotóxicos em longo prazo.
O que mais assusta, porém, é exatamente o fato de que não se trata de um caso isolado. Existe um grande problema de subnotificação de contaminações por este tipo de substância, mas, aos poucos, cada vez médicos diagnosticam mais casos de   intoxicações e até câncer entre os trabalhadores do campo.

Luiz Cláudio Meirelles, da Fiocruz, que participou de debate logo após a exibição, lembrou que, recentemente, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária liberou o uso de dois novos insumos químicos já banidos de outros países. No total, as megaplantações brasileiras contam com 14 tipos de agrotóxicos proibidos em outras nações.

A batalha contra os produtos químicos na agricultura, que conta com mais de 80 entidades da sociedade civil na Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, tem adversários de grande peso econômico e político.

Por um lado, desde a década de 1960, com a chegada da Revolução Verde ao Brasil e seu pacote tecnológico que aparelhou e endividou pequenos agricultores, a produção de alimentos foi cada vez mais inserida na lógica do capital internacional, calcada também no monopólio.

Para se ter uma ideia, no Brasil, há 130 empresas que comercializam sementes modificadas e agrotóxicos, sendo que seis delas - Monsanto, Dow, Bayer, Basf, Syngenta e Dupont - controlam 68% do mercado. A concentração torna a vida dos agricultores familiares cada vez mais difícil.

Além disso, no campo político o direito dos grandes latifundiários também fica assegurado. 120 deputados federais defendem os interesses de grandes fazendeiros - cerca de 40 mil pessoas - no Congresso Nacional. Enquanto isso, aproximadamente 10 parlamentares representam mais de 12 milhões de pessoas que dependem da agricultura familiar e garantem os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.

Entrevistado no filme, o colombiano Miguel Altieri ressalta que a maior parte da produção agrícola de grandes empresas é para exportação. "A monocultura produz apenas 30% dos alimentos que comemos. A agricultura camponesa é responsável por 70%. Precisamos dar mais atenção a ela."

Diferentemente do primeiro volume do "Veneno está na mesa", nesta nova produção o cineasta aborda não apenas o impacto da agricultura convencional na vida dos brasileiros, mas vai além e mostra alternativas dentro da agricultura familiar que já estão em curso no território brasileiro, como o cultivo orgânico, a agroecologia e os sistemas agroflorestais.

No Rio de Janeiro, por exemplo, há um circuito de feiras - orgânicas, agroecológicas e da roça - onde as pessoas podem buscar alimentos mais saudáveis e produzidos de forma mais justa também para os trabalhadores do campo, ampliando os meios de comercialização, aproximando produtor e consumidor e reduzindo os circuitos de distribuição dos alimentos.

Mas a transição no Brasil tem sido difícil. O que está em disputa são modelos econômicos bem distintos. Um caso que ilustra isso é o da Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte, onde, segundo dados do filme, 13 mil hectares foram desapropriados por decreto da presidente Dilma Rousseff em prol do agronegócio, em detrimento da produção agroecológica da qual sobrevivem milhares de famílias.

Pela forma como atua no território, em total desrespeito às populações, este modelo de desenvolvimento, cujos tentáculos aparecem não apenas na agricultura, está em xeque. O momento é o do conflito e não se pode deixar de tomar partido nesse caso. Comer também é um ato político.

CPT lança relatório Conflitos no Campo Brasil 2013

Da Página da CPT

No dia 28 de abril, próxima segunda-feira, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançará sua publicação anual, Conflitos no Campo Brasil 2013. É a 29ª edição do relatório que reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, neles inclusos os indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais.
O lançamento se realizará na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, a partir das 14h00.

Estarão presentes ao lançamento o presidente da CPT, Dom Enemésio Lazzaris, os membros da coordenação executiva nacional da CPT, o secretário da coordenação nacional da CPT, Antônio Canuto, representantes da CNBB e o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carlos Walter Porto-Gonçalves.
Dona Raimunda, posseira da Gleba Tauá, em Campos Lindos (TO), ameaçada de morte por fazendeiros e empresários que se dizem donos das terras, também irá participar do evento.

A ofensiva contra os indígenas


O relatório destaca o número de assassinatos em conflitos no campo, 34, dois a menos que no ano anterior, quando foi registrado o assassinato de 36 pessoas. O que chama a atenção em 2013 é que 15 dos 34 assassinatos registrados são de indígenas.
São também indígenas 10 das 15 vítimas de tentativas de assassinato, e 33 das 241 pessoas ameaçadas de morte. Em nenhum outro período desta publicação se tem registro semelhante.

Outro destaque de 2013 é o crescimento expressivo do número de conflitos pela água. 32% a mais que em 2012.

Amazônia: principal palco dos conflitos

A Amazônia continua o principal local em que ocorrem conflitos. Nela se concentram 20 dos 34 assassina­tos, 174 das 241 pessoas ameaçadas de morte, 63 dos 143 presos, e 129 dos 243 agredidos.
Das Po­pulações Tradicionais que, em 2013 foram vítimas de algum tipo de violência, 55% se localizavam na região.

Torturador na ditadura, coronel Paulo Malhães é encontrado morto no RJ

Militar teria sido assassinado no sítio em que reside, em Nova Iguaçu

Torturador na ditadura, coronel Paulo Malhães é encontrado morto no RJ MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO CONTEÚDO

Coronel foi encontrado morto em sua casa, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro Foto: MARCOS ARCOVERDE / ESTADÃO CONTEÚDO

Um mês após revelar ao país que matou, torturou e ocultou cadáveres de presos políticos durante a ditadura, o coronel reformado do Exército Paulo Malhães, 76 anos, foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira, no sítio em que morava, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

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Segundo a Polícia Civil, o corpo apresentava sinais de asfixia. A mulher do coronel reformado, Cristina Batista Malhães, afirmou que três homens teriam invadido o sítio na noite de quinta-feira, 24.

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— Quantas pessoas o senhor matou?
— Tantas quantas foram necessárias?

O diálogo travado entre o ex-ministro José Carlos Dias e o coronel reformado Paulo Malhães ocorreu no dia 25 de março, durante o depoimento do militar à Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Malhães estarreceu o país com suas revelações. Em pouco mais de duas horas de depoimento, o coronel respondeu às perguntas com frieza e sem demonstrar arrependimento.
No dia 21 de março, quatro dias antes de falar à CNV, o militar também havia declarado à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro que jogara os restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva no mar fluminense, depois de os desenterrar de uma praia, onde fora sepultado clandestinamente em 1971.
Mas Malhães voltou atrás no depoimento à CNV. Negou que tivesse escondido o corpo de Rubens Paiva e disse que sustentou a versão apenas para conformar a família do parlamentar.
Logo após a notícia da morte do militar, suspeitas de queima de arquivo começaram vir à tona. Pelo Twitter, a ex-ministra dos Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), disse que "soa estranho que após essas revelações o militar tenha sido assassinado". O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro, Wadih Damous, também disse acreditar na hipótese de queima de arquivo e defendeu "rigor nas investigações".

— Ele foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época.
Malhães foi agente do Centro de Informações do Exército (CIE) e chegou a ensinar técnicas de tortura a repressores gaúchos. Ele também foi um dos agentes mais ativos da chamada Casa da Morte de Petrópolis, um centro clandestino mantido pelo regime militar no início da década de 1970.

O depoimento de Malhães à CNV:
 
Fonte: ZERO HORA, COM AGÊNCIAS